Parece que foi ontem quando descobri que o humor tem hora, lugar e todas as condições ideais para ser apreciado. Chegar em um velório e contar uma piada, pode ser uma catástrofe, dependendo dos familiares do defunto. Digo isto pois, uma família bem humorada e feliz, pode optar por um velório com pagode e cerveja, ou não. Se era o desejo do defunto, porque não? Me lembro de Dicró contando suas estórias malucas, sempre regadas de muita sacanagem, cerveja e samba. Algumas pessoas me fazem sorrir apenas com a sua presença de espírito. Sabe aquele momento em que ficamos observando uma pessoa e esperando ansiosamente a próxima frase engraçada que ela irá falar? Isso é mágico para mim. Me lembro que na escola, eu era o engraçadinho da classe, mas era o engraçadinho sem noção. Com o professor tentando dar aula, compenetrado em sua linha de raciocínio, eis que surgia o engraçadinho falando um besteirol qualquer. Era eu. Só depois de adulto percebi o quanto era inconveniente. Mas, também pudera, assistia com um entusiasmo absurdo todos os programas de humor da telinha. Naquele tempo não havia internet. Standup como hoje conhecemos, era feito por Chico Anísio em seus shows pelo país afora e de vez em quando assistíamos trechos no Fantástico. Cheio de ironia e razão, Chico, inteligentíssimo, falava sobre todos os assuntos do cotidiano do país. Aquilo para mim era mágico. E as Sessões da Tarde? Quando anunciava um filme com Jerry Lewis, eu passava a semana esperando com muita ansiedade. Jerry Lewis era genial. O típico humorista que falei antes neste texto. Era um humorista de caras e bocas. Um olhar dele e era inevitável a gargalhada. Mazarope e seus filmes entravam em cartaz toda a semana em minha cidade. Naquele tempo só podia assistir acompanhado de um adulto ou quando um pouquinho mais espichado, falsificava a carteirinha escolar. Mazarope era um mestre no cinema. Haviam filmes nacionais onde a nata do humor estava sempre presente, mas estes eram filmes "Pornochanchadas" e só conseguíamos assisti-los de madrugada, quando passava em alguma emissora de TV aberta. Oscarito, Grande Otelo, Costinha, Nair Belo, José Lengoi, Golias. São tantos e tão importantes para o desenvolvimento de minha veia humorística que muitos nem me lembro mais o nome. Programas como "Satiricom" e "Balança mas não cai" eram os meus favoritos. Depois seguindo mais ou menos uma cronologia, não perdia os Trapalhões. Devo confessar que meu sonho de infância era conhecer o Renato Aragão. Meu ídolo de infância. Não perdi um filme sequer dos Trapalhões, sendo que "Bonga, o vagabundo", assisti no cinema e em preto e branco. Só de olhar para a cara do Didi eu já morria de rir. Alguém certo dia me perguntou de onde vinha meu bom humor. Vou contar um segredo. O humor é a única coisa que funciona como uma válvula de escape. O humor é responsável pelo sorriso e sorrir faz bem à alma. Ter humor no coração e não deixar esse humor se extinguir, nunca, me enche de felicidade. Fazer alguém sorrir nos momentos mais difíceis é como um bom banho ao final de um dia extenuante. Hoje temos muito mais acesso ao humor pois, de forma sempre mágica e resistindo ao tempo, graças à Deus, o humor está na TV, está na Internet e as formas de se fazer humor são imensamente diversificadas. Acho que as pessoas descobriram o humor como terapia para um bom viver. Essa semana que passou me deixou muito triste pois, perdi mais um ídolo. Perdemos mais um grande humorista. Esse, de longe não era apenas mais um humorista, era o Humorista. Inteligente, irreverente, antenado e imensamente puro coração. Jô Soares. Ele tinha Gênio até no nome: Eugênio. Li todos os seus livros e sempre esperei com ansiedade o próximo. Sabe quando uma pessoas diz que lá em cima deve estar uma festa? Pois é... Já estou começando a achar que lá está melhor que aqui. A grande maioria de meus ídolos estão por lá. Se todos vão para o mesmo lugar, imagina que lugar mágico para estar. Olha o naipe da galera: Jô Soares, Chico Anísio, Paulo Gustavo, Costinha, Ronald Golias, Mussum e Zacarias, Bussunda, Lúcio Mauro, Grande Otelo... Poxa! Tem muita gente legal por lá. Mas, estamos aqui e temos ainda uma boa safra de humoristas que também aprenderam a fazer humor com os mestres. Me perdoem pelo texto meio "Saramago", mas acredito que a linha de raciocínio exigiu de mim este texto sem parágrafos. Um salve para o humor. Beijo do gordo. Aplausos.
Mood
Texto/Ilustração: Mood